terça-feira, 15 de junho de 2010

Impurezas saudáveis

A sabedoria está em lavar as mãos em água suja, segurar serpentes e não ser picado por elas, expulsar os demônios da depressão, entender novas linguagens, beber venenos e sair fortalecido, experimentar as doenças e não adoecer.

O contato com as impurezas que há nos livros amplia nossa consciência, nos torna menos vulneráveis, mais humanos e mais realistas. Percebo esse princípio nas linhas e entrelinhas de Não contem com o fim do livro (Editora Record, 2010), diálogo genial entre Umberto Eco e Jean-Claude Carrière.

E é de Carrière o seguinte comentário, aplicável aos nossos intentos terapêuticos:

"Existe agora um vinho que apresenta essa qualidade de ser 'não filtrado'. Preserva todas as suas impurezas, que às vezes contribuem com sabores muito particulares que a filtragem, na sequência, lhe subtrai. Talvez tenhamos saboreado na escola uma literatura demasiadamente filtrada e, por esse motivo, carente de sabores impuros." (pág. 94)

2 comentários:

  1. O início do texto lembra Nietzsche: "Aquele que quiser permanecer puro entre os homens há de beber de todas as fontes"...
    Muito bom vir aqui.
    Abraços.

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  2. ...aliás, parece que é "beber em todas as fontes"... Citei 'de cabeça'.
    Até outra vez.

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