sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pedofilia e bibliofilia

Se o Vaticano me perguntasse o que fazer para combater a pedofilia dentro da Igreja, eu responderia que poderia combater esse problema com a bibliofilia. Os bispos, se querem formar bem os padres de suas dioceses, têm de propiciar e exigir leitura, propor o estudo como prática real, o amor aos livros (também) como terapia.

É uma resposta ingênua, certamente. E quem sou eu para aconselhar uma instituição com 2 mil anos de atividade? Mas prefiro a ingenuidade às respostas evasivas, maliciosamente evasivas.

A leitura. A sabedoria. A reflexão. A brincadeira com as palavras. Um seminarista que esteja sempre com livros nas mãos não terá tempo para que sua cabeça se ocupe com o que não deve. Um padre com uma boa biblioteca poderá ter muitas noites de prazer literário.

Melhor ser possuído pelo amor aos livros do que pelo fogo da solidão, pela carência afetiva, pela vontade de dominar o mais fraco, de seduzir o menos atento.

Em vários textos e entrevistas, Bento XVI, mesmo quando ainda não era papa, dizia com clareza que "nem todos os que se dizem cristãos o são realmente". Isto supõe pensar num cristão autenticamente cristão, num cristão fiel ao compromisso batismal. Quanto aos sacerdotes pedófilos, podemos dizer algo semelhante: nem todos os que foram ordenados sacerdotes o são realmente.

Mas voltemos à bibliofilia como caminho terapêutico. Proponho que os seminaristas e os padres leiam, no mínimo, 8 horas por dia. E que leiam romance e poesia, contos e novelas, teatro e biografias, história e fantasia, não só teologia e filosofia.

E que leiam sobre o amor, sobre a dor, sobre os "impossíveis necessários" da vida, e que, leitores compulsivos, cresçam em humanidade, e pratiquem sua catarse na leitura, e busquem a santidade entre as páginas de um Rosa, de um Drummond, de um Shakespeare, de tantos autores que ofertaram generosamente o seu corpo e seu sangue à humanidade inteira.

Um comentário:

  1. Perfeito professor. "E que leiam sobre o amor".
    Um abraço.
    Sua aluna Solineide Maria de Itabuna - Casa Vila Madalena. Você se lembra?

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