segunda-feira, 28 de junho de 2010

Terapia socrática

Mestre Sócrates inventou a terapia filosófica: pensar com rigor, dialogar com humor, perguntar, conhecer-se, ironizar, brincar com as palavras. Terapia em grupo, em clima de banquete (simpósio), abordando todos os temas: a linguagem, a justiça, a coragem, a política, o amor etc.

Novos diálogos socráticos sobre temas contemporâneos foram criados pelo professor Peter Kreeft, que conheci ao ler um livro seu, O diálogo, no qual C. S. Lewis, John Kennedy e Aldous Huxley, que morreram no mesmo dia 22 de novembro de 1963, conversam sobre a vida e a morte.

O autor inventou agora novas conversas. Sócrates conversando com Sartre, Marx, Maquiavel, Kant, Descartes... Captou muito bem o estilo socrático. Estou traduzindo a conversa do pai da filosofia ocidental com o fundador do comunismo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

7 princípios

Esta reflexão sobre terapia literária me ajudou a definir 7 princípios, quanto ao modo de aproximar-me de livros e autores:

1º) Não idolatrar nenhuma escola literária, nenhuma linha de pensamento, nenhuma doutrina, nenhuma obra-prima, nem o mais genial dos escritores.

2º) Não desprezar nenhum autor, nenhuma linha de pensamento, nenhuma doutrina, nenhuma obra, por pior que pareça.

Estes dois "nãos" me protegem (assim espero) dos fanatismos e preconceitos.

Os 5 princípios restantes são positivos:

3º) Descobrir escolas literárias, estilos, linhas de pensamento, doutrinas, obras-primas e obras ruins, escritores que pareçam geniais ou não, descobrir, descobrir.

4º) Selecionar ideias, imagens, argumentos, metáforas, conceitos, passagens, momentos, intuições de tudo aquilo que eu ler.

5º) Verificar em que medida as ideias, imagens, argumentos etc. que eu li são carregadas de beleza, inteligência, sensibilidade, força, boa-fé.

6º) Articular as ideais, imagens, argumentos, metáforas etc. entre si.

7º) Incorporar novas ideais, imagens, argumentos, metáforas, conceitos etc. ao meu SPC (Sistema Pessoal de Convicções).

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O perigo da única história

Terapia se faz quando ouvimos várias e variadas histórias. Ter uma única história sobre alguém, sobre um país, sobre uma realidade... é caminho seguro para a doença do fanatismo, para a epidemia do preconceito, para a visão distorcida e limitada.

A escritora nigeriana Chimamanda Adichie faz considerações sobre esse perigo. E fala do antídoto!



(Se precisar de legenda, selecione o idioma na base do vídeo.)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Onfray, escrita e terapia

Ler autores que sentem raiva. A raiva alimenta a escrita. A raiva e seus raios. A raiz da raiva afunda e retira da alma o sumo, a soma. Michel Onfray (1959 - ) sente raiva, escreve com raiva, pensa com raiva. Raiva viva, seiva.

Depois da raiva é possível falar em serenidade. Depois de externar sua raiva contra coisas e pessoas, contra religião e sociedade, Onfray escreve:

"Sereno, sem ódio, ignorando o desprezo, longe de todo desejo de vingança, ileso de qualquer rancor, informado sobre a formidável potência das paixões tristes, não quero nada mais que a cultura e a expansão dessa 'potência de existir' — segundo a feliz fórmula de Espinosa encastoada como um diamante na sua Ética. Somente a arte codificada dessa 'potência de existir' cura das dores passadas, presentes e por vir." (A potência de existir, pela WMF Martins Fontes, 2010, pág. XL)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Impurezas saudáveis

A sabedoria está em lavar as mãos em água suja, segurar serpentes e não ser picado por elas, expulsar os demônios da depressão, entender novas linguagens, beber venenos e sair fortalecido, experimentar as doenças e não adoecer.

O contato com as impurezas que há nos livros amplia nossa consciência, nos torna menos vulneráveis, mais humanos e mais realistas. Percebo esse princípio nas linhas e entrelinhas de Não contem com o fim do livro (Editora Record, 2010), diálogo genial entre Umberto Eco e Jean-Claude Carrière.

E é de Carrière o seguinte comentário, aplicável aos nossos intentos terapêuticos:

"Existe agora um vinho que apresenta essa qualidade de ser 'não filtrado'. Preserva todas as suas impurezas, que às vezes contribuem com sabores muito particulares que a filtragem, na sequência, lhe subtrai. Talvez tenhamos saboreado na escola uma literatura demasiadamente filtrada e, por esse motivo, carente de sabores impuros." (pág. 94)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O livro perdido

E quando queremos encontrar um livro... e ele está dentro de casa... mas não conseguimos localizá-lo? O livro está aqui, posso sentir sua presença oculta, posso ouvir seu silêncio, posso intuir sua brincadeira de mau gosto.

É terapêutico perder um livro dentro da própria casa? Procurá-lo é terapêutico. Imaginá-lo de novo em nossas mãos. Sonhar com seu retorno. Inútil busca. Causa perdida. Mas tão necessária busca.

O livro perdido me faz achar outras coisas. Sua ausência está gritando. Estou mobilizado na saudade funda. Sem sabedoria e sem esperança, faço deste livro meu filho pródigo. E quantas festas eu farei quando ele aparecer outra vez!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Futurar

Ver o futuro é um desses impossíveis necessários da vida. Mas tentar não faz mal. Faz bem, até. Futurar... Podemos praticar, como já se fez outrora.

Tenho em mãos o Perfil do futuro, de Arthur Clarke. Em inícios dos anos 1960, o autor de 2001: uma Odisseia no espaço, viu o celular com clareza:

"Chegará o tempo em que chamaremos uma pessoa em qualquer lugar da Terra simplesmente discando um número. A pessoa será localizada automaticamente, quer esteja em pleno oceano, no coração de uma grande cidade ou atravessando o Saara. Este dispositivo sozinho pode mudar as formas da sociedade e do comércio tanto quanto já fez o telefone, seu primitivo antepassado."

Outro escritor. Antes disso. Em 1909, E. M. Forster retrata o que aconteceria um século depois no seu conto The machine stops. Ou seja, agora. Pessoas vivendo isoladas em pequenas células (refere-se a um small room), podendo comunicar-se com qualquer pessoa no mundo por meio de um pneumatic post... e vendo o rosto do outro numa blue plate, uma placa azul...



Exercícios dessa natureza nos levam longe demais. E isso é outra forma de terapia literária. Transcender o presente. Prever o imprevisível.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Doar é viver

viver
é um exercício
constante
de doação

mesmo
aquelas pessoas
que nos parecem
não doar nada

al
go
dão

Chama-se "do ar" este poema. É de Múcio Góes, pernambucano, que descobri ontem, conversando com meu amigo Prof. Romão. Algo as pessoas dão. Doar é viver. É terapia pura.