terça-feira, 30 de março de 2010

A velocidade poética

Terapia literária pode se fazer com doses mínimas de poesia, que são, em muitos casos, doses imensas.

Funciona assim: você pega um livro de poemas, como os poemas de Manoel de Barros. Abre ao acaso, acreditando nas forças invisíveis e imprevisíveis.

Então surgem coisas como:



Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.




E isso atinge o coração, o estômago, os rins, a musculatura das pernas, faz cabelo crescer novamente, interrompe soluço renitente, melhora a visão, elimina o ronco noturno e as tonturas diurnas.

Atinge para curar nosso corpo e nossa alma das falas e falácias que circulam o dia inteiro, entram em nossos pulmões e se instalam em nosso sangue.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Leitura no avião

Ler no avião, dentro ou fora,
é terapia veloz.

Hora de apertar os cintos,
sentir bem alto o que eu sinto.

Decolar, e sem demora,
que muitas nuvens me esperam.

Nesta asa da leitura
atravesso mares, ares.

Meus medos morrem,
no além das alturas.

E eu de novo neste voo
no livro enfim aterriso.

sábado, 20 de março de 2010

Livraria como lugar de terapia

Entrar numa livraria é, em si mesmo, um ato terapêutico. Livros, gente que gosta de livros, gente que trabalha com livros, cheiro de livro, livros em exposição, suas capas, a sensação de que o mundo é feito de palavras.

Pelo menos uma vez por semana, entre numa livraria. Fique ali durante quinze minutos, ou mais. Toque os livros. Leia algumas páginas ao acaso. Visite autores conhecidos. Conheça autores novos.

Não é preciso comprar nenhum livro. Basta ficar ali dentro, na livraria, sentindo a presença dos livros, ouvindo seus chamados silenciosos, sua ânsia de sair dali para conhecer o mundo.


Se algum livro conquistar você, compre-o então, tire-o dali, daquela prisão, leve-o para fora, prometa-lhe a leitura mais intensa, leve-o para a sua vida. O livro comprado é mais do que uma nova companhia.

Ao chegar em casa, deixe o livro descansar um pouco, não tenha pressa. Mais tarde, quando vocês dois estiverem juntos e puderem conversar em paz, esqueça de tudo, para lembrar-se do essencial.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Nós, esquisitos?

Um livro puxa outro. Um autor nos leva a outro e esse outro a outros. A terapia literária vai por indicação, faro, intuição, risco. Cheguei assim, pulando de livro em livro, ao Esquisitologia, de Richard Wiseman (BestSeller, 2008). Livro para lá de esquisito.

Capa esquisita, proposta esquisita. Mas ainda mais esquisita é a vida cotidiana. Esquisitices do autor, obcecado por comportamentos esquisitos. Pelo senso de humor, pelas carências humanas, por nossa capacidade de mentir e outras coisas esquisitas.

Ou serei eu o esquisito dessa história? Ou será você? Ou todos nós? Seres esquisitos num mundo estranho. Gente esquisita que corre atrás de livros bizarros. E acredita que estudar a esquisitice é uma forma de encontrar a normalidade...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Poema aos livros quietos

Livros ao redor
crescendo do nada
ou de cada
menor pensamento


Livros quietos
calando histórias
cápsulas
do infinito

Livros soltos
no entanto juntos
enxame e bando
de paixões


Livros tantos
no meu ombro
anjos que guardam
e inspiram

domingo, 7 de março de 2010

Quem aprende? Quem ensina?

Uma pergunta que se desdobra: são os livros que nos ensinam ou somos nós que aprendemos com eles?

No contexto da terapia literária: são os livros que nos curam ou somos nós que nos curamos, fazendo uma leitura adequada deste ou daquele livro?

Concretamente, pensando nos clássicos: um Grande sertão: veredas, um Fausto, um Hamlet, uma Divina Comédia... nos curam de nossas loucuras, ou somos nós que desenlouquecemos ao ler os clássicos com a devida lucidez?