quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Literatura, vida e saúde


Escrevendo sobre a literatura e a vida, Gilles Deleuze (1925-1995) via o escritor como "médico de si próprio e do mundo" (Crítica e clínica, pela editora 34, em 1997, pág. 13), mas um médico de saúde frágil, submetido às dores, aos sofrimentos humanos.

Há algo de doentio na literatura, como no escritor. Os seres que escrevem e as coisas escritas carregam um pouco, ou um muito, dos delírios, das fraquezas, dos desvios. Mas se trata de criar, de superar-se. Kafka é sinal de que o mundo está doente, mas quando Franz Kafka (1883-1924) retrata o mundo doente pode criar e difundir visão, visão revolucionária, terapêutica.

Escrever é, de certo modo, criar um idioma diferente dentro do idioma, e com esse idioma produzir visões e compreensões. Ler esses novos idiomas — o "kafkiano", o "drummondiano", o "rosiano", o "calviniano"... — requer novas alfabetizações, que ampliam a consciência, melhoram nosso organismo pensante, fortalecendo-nos perante doenças as mais traiçoeiras.

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